(Des)ajustamentos qualificacionais em Portugal: evolução, incidências e a importância do ponto de partida
Este estudo tem como objetivo principal analisar os (des)ajustamentos qualificacionais do emprego, das suas diferentes incidências categoriais e setoriais, da distribuição profissional e setorial dos trabalhadores com ensino superior sobrequalificados, e da variação da incidência da sobrequalificação ao longo dos trajetos laborais.
Num espaço de cerca de duas décadas e meia, a subqualificação diminuiu fortemente em Portugal e o ajustamento qualificacional aumentou de forma muito significativa, representando um aumento intenso do nível de escolaridade da população empregada, indicando que a economia portuguesa tem, em parte, conseguido recompor-se e criar emprego adequado ao perfil mais qualificado da força de trabalho disponível. Ainda assim, existem duas questões que importa realçar: por um lado, a subqualificação continua a ter uma expressão bastante elevada, devido, no essencial, a um efeito de stock que tenderá a diminuir por via da substituição de gerações no emprego; por outro, o aumento da sobrequalificação indica que uma parte relevante dos recursos humanos qualificados estão a ser desaproveitados – ou, pelo menos, a executar funções e tarefas com um nível de complexidade que não exigem ou formação de nível secundário ou formação de nível superior, com efeitos potenciais na exclusão dos menos qualificados do mercado de trabalho.
O estudo concluiu ainda que o fenómeno da sobrequalificação afeta sobretudo as mulheres, assume valores mais expressivos nos grupos etários mais jovens e é mais elevada em alguns setores de atividade que têm sido protagonistas na criação líquida de emprego em Portugal nos últimos anos.
Autores: Frederico Cantante, Pedro Estêvão